OESP, 17 de agosto de 2008
A 20 km de Brasília, Águas Claras, o maior canteiro de obras do País
Em um ano, o m² passou de R$ 2,2 mil para R$ 3,8 mil, mas a infra-estrutura não avançou e o trânsito preocupa
Lisandra Paraguassú
Conhecida por ser hoje o maior canteiro de obras da construção civil do País, a cidade-satélite de Águas Claras, no Distrito Federal, chama a atenção pelo paredão de espigões de concreto armado, formando uma cortina de pedra que destoa dos riscos arquitetônicos "rasteiros" planejados para Brasília por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Diante da demanda por moradia de classe média e da ausência de novos espaços para construir apartamentos no Plano Piloto, a cidade satélite acabou se transformando em palco do grande boom imobiliário candango. Parafraseando o poeta Fernando Pessoa, Águas Claras virou o tipo de cidade que "primeiro estranha-se, mas depois entranha-se".
Em um ano, o metro quadrado em construção passou de R$ 2,2 mil para R$ 3,8 mil, mesmo com enorme quantidade de apartamentos à venda, em torres que têm cerca de 20 andares. A aposta agora passou dos simples 2 e 3 quartos para 4 quartos e condomínios tão completos que parecem clubes. A explicação para esse boom vem do que acontece no Plano Piloto. Com apartamentos nas áreas mais nobres de Brasília - as Asas Sul e Norte e o setor Sudoeste - ultrapassando os R$ 5,5 mil o metro quadrado, Águas Claras terminou por se tornar a melhor opção para a classe média brasiliense.
E, como toda a cidade que cresce demais, Águas Claras enfrenta problemas típicos da urbanização. Até o ano passado, praticamente não havia sistema de esgoto. Algumas ruas, abertas para construção de mais prédios, ainda se mantêm sem asfalto. Não há escolas públicas nem postos de saúde.
Mas o que mais incomoda os moradores é o trânsito. A cidade fica a apenas 20 quilômetros do Plano Piloto, uma distância pequena para qualquer grande metrópole como São Paulo. No entanto, nos horários de pico, a viagem até o centro pode durar mais de uma hora. "O boom imobiliário acontece no País e o Distrito Federal não é diferente. Ao contrário, o poder aquisitivo aqui é alto, atraiu muitas empresas. A cidade cresce", diz Rejane Yung, subsecretária de Planejamento da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. "O plano viário ainda não está instalado, mas temos de apostar também em um plano de transporte coletivo para convencer a classe média a deixar o carro em casa."
O administrador Ronaib Costa Ferreira, de 34 anos, morou a vida inteira na cidade-satélite do Gama, a 45 quilômetros do Plano Piloto. Em 2003, comprou o primeiro apartamento em Águas Claras. Virou síndico do condomínio, o Residencial Imprensa I, e adaptou-se tão bem que, há dois anos, deixou a empresa em que era representante comercial para virar síndico em tempo integral. "Estou tão adaptado que não gostaria de morar em outro lugar", comenta. "Aqui tem tudo perto. Meu filho estuda perto. Tem shopping, cinema, supermercado. Não preciso sair para encontrar nada."
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