sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Você sabe o que acontece com o lixo eletrônico que você produz?

Por Eduardo Wagner

No mundo todo tal questão mal ganhou atenção, e o problema está apenas começando a ser quantificado, tanto em número de resíduos gerados como em quanto se gastará para se reciclar e destinar ambientalmente adequado estes resíduos descartados por nós.

Segundo estimativas, somente no Estados Unidos terão armazenados em 2009 cerca de 500 milhões de computadores obsoletos.

A Convenção de Basiléia, um acordo internacional que define a organização e o movimento transfronteiriço de resíduos sólidos e líquidos perigosos regulamenta o movimento destes resíduos entre países, estabelecendo obrigações e proibições às partes signatárias, para tentar controlar a entrada e saída de resíduos de modo a proteger países em desenvolvimento de se tornar grandes lixeiras de países desenvolvidos. O Brasil é signatário de tal convenção desde 93 e os EUA, maior gerador de resíduos eletrônicos do mundo não faz parte desta convenção, sendo que outros 170 países são signatários.

Com a redução do preço dos eletrônicos e melhoria das economias mundiais, a produção deste lixo eletrônico aumenta ano a ano. O que leva muitos países industrializados a exportar seus resíduos para países em desenvolvimento, pois é muito mais barato mandar para o terceiro mundo, do que arcar com as despesas de reciclagem e disposição final adequada. Muitas vezes essa transferência de resíduos eletrônicos para outros países vem disfarçada em ações de ajuda, com desculpas de levar tecnologia para países pobres, como por exemplo a atitude de vários países europeus, que mandam celulares recondicionados para países africanos a preços irrisórios para se desfazerem destes resíduos.

Parte do lixo eletrônico produzido no Brasil é processado por aqui mesmo, outra parte é mandada para países como a Bélgica, que possuem uma sólida indústria de reciclagem destes materiais, com reaproveitamento de quase todos compostos e ligas que constituem estes componentes eletrônicos.

Mas apenas uma ínfima parte dos eletrônicos que são produzidos no mundo tem um destino pós-consumo adequado. Grande parte destes resíduos vão parar em países pobres e miseráveis, contribuindo para o péssimo nível de vida destas localidades ao incrementar os problemas ambientais e de saúde. Países como o Quênia, Nigéria e a China são alguns dos destinos costumazes destes produtos. O Quênia e Nigéria por serem países miseráveis que exercem pouco ou nenhum controle sobre esses resíduos. Já a China, onde apesar de ser banida a importação, sofre com a falta de controle e a corrupção, que acaba favorecendo a entrada.

A cidade de Guiyu, antes um pequeno vilarejo produtor de arroz localizado no sudeste da China, tornou-se a capital mundial do lixo eletrônico ao começar receber todo tipo de lixo eletrônico proveniente do ocidente.

A cidade hoje concentra cerca de 60 mil trabalhadores, incluindo crianças, ganhando cerca de 3 reais por dia para desmontar produtos eletrônicos em busca de materiais que tenham algum valor. Boa parte da "reciclagem" é feita queimando as fiações e outros componentes com uma mistura conhecida como Aqua Regia, que contém 75% de Ácido Hidroclorídrico e 25% Ácido Nítrico. Este composto extremamente tóxico, polui o rio que abastece a cidade, contamina as águas subterrâneas e envenena a população gradualmente, já que maioria dos trabalhadores fazem esta extração sem nenhuma proteção. Fatos que obrigam que toda água potável consumida na cidade seja proveniente de outra localidade.

Teste de acidez da água, mostra que ela está próxima a zero, o mais alto grau de acidez. Além de contaminar a água da região, isto retorna em forma de chuva ácida que contamina regiões mais distantes e mata plantações.

Outros trabalhadores tentam extrair restos de toners, utilizando pincéis para raspar as sobras, o que gera uma nuvem de tinta em pó, causando assim problemas respiratórios pela quantidade de carbono inalada provenientes desta tinta.

Os resíduos eletrônicos, contem uma vasta gama de materiais tóxicos causadores de centenas de doenças, dentre elas o câncer, produtos como: berílio, cádmio, bário, mercúrio, chumbo, PCBs, etc.

Segundo estimativa da RSA - Sociedade Real para o Fomento Comércio e Artes da Inglaterra, um britânico médio consumirá ao longo de sua vida, cerca de 35 celulares, 15 impressoras, 7 monitores, 24 mouses, 6 televisores e 8 cpu´s dentre outros, o que resulta na geração de 3,3 toneladas de lixo eletrônico durante o período de uma vida.

Tal levantamento gerou o projeto WeeeMan, que é um homem composto de todos produtos eletrônicos dispensados por um britânico médio ao longo da vida. O que não é pouca coisa.

ABAN - Rede de Ação da Convenção de Basiléia, instituição que promove as ações previstas na convenção tem um website em inglês com diversas informações sobre o assunto, e dentre eles, promovem um filme intitulado The Story of Stuff que demonstra a intrincada rede de conexões ambientais e sociais entre o consumidor e a cadeia de vida dos produtos consumidos, chamando-nos para contribuir para um mundo mais justo e sustentável, onde cada um pode fazer sua parte. Clicando no link abaixo você pode fazer o download do filme, que está em inglês.

Mas temos de ponderar que quando falamos da geração de todo esse lixo, desse descarte eletrônico, nós vamos além do paradigma da redução do consumo, onde se propõe que muitos dos problemas ambientais podem ser resolvidos com a redução do consumo. Pois com os atuais níveis de evolução tecnológica, o ato de comprar um novo produto vai além da escolha em se adquirir ou não este produto em questão, e chega na necessidade de se ter o novo equipamento pela simples obsolescência do predecessor.

Isso nos leva ao ponto crucial de que não basta apenas consumir conscientemente, mas também cobrarmos e agirmos pela implementação de programas de reaproveitamento, reciclagem e descarte adequados de tais produtos, pois queiramos ou não, a tecnologia que tanto nos facilita a vida força o incremento da geração de resíduos perigosos.

Fontes: Environmental Graffiti, The Seattle Times, Weeeman, Basel Action Network, The Story of Stuff.

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