segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Superpopulação e o DF...

Eugênio Giovenardi
Escritor e sociólogo
20.08.2008


Há algum tempo o mundo dá sinais de superpopulação. Guerras pelo espaço físico, desemprego e fome. Multiplicamo-nos além do suportável. Os espaços estão perigosamente ocupados. Exploramos as riquezas naturais com uma intensidade e velocidade acima de sua capacidade de recuperação.

A superpopulação se comprova quando não há capacidade administrativa nem recursos financeiros para oferecer a toda a população os serviços básicos de educação em todos os graus e em todas as áreas do conhecimento, além de saúde, segurança e lazer. O DF é um exemplo.

O termo superpopulação rompeu o medo e está em primeira página dos jornais.

Quando se fala em superpopulação é preciso associá-la a dois elementos vitais para a sobrevivência humana: água e alimentos. A produção de alimentos em escala para suprir as necessidades básicas de uma grande população modifica e desequilibra o ambiente natural, requer o uso intensivo de água para contrabalançar a tecnologia pesada e ativar os reagentes químicos utilizados..

Os cultivos intensivos de milho, soja, trigo, por exemplo, por constituírem massas compactas, atraem fungos e predadores contra os quais se utilizam fortes pesticidas. Paralelamente, as grandes populações, cada dia mais apinhadas em espaços reduzidos, são propensas a doenças e epidemias recorrentes e outras, mais duradouras, como a AIDS.

À medida que uma população se expande sobre uma área, o espaço por habitante se encolhe e a pressão sobre ele se intensifica de muitas maneiras. A concentração de moradias, as vias de comunicação, os equipamentos de serviços públicos e privados se impõem, reduzindo os espaços verdes. O crescimento da população é inversamente proporcional à oferta de espaço. Verticalizar e adensar são soluções paliativas.

A superpopulação é mais intensa e se faz sentir maior rigor nos países pobres. Os países ricos, por razões econômicas, obrigaram-se a controlar o crescimento populacional diante da exaustão das riquezas naturais.

A difusão da cultura ambiental desenvolve nas pessoas uma compreensão maior da natureza da qual fazemos parte. É comum as pessoas pensarem que a humanidade é dona da natureza e não parte dela. As relações são recíprocas e, na medida em que se agride a natureza, ela se vinga com secas fora de época, calores surpreendentes, enchentes desastrosas, ventanias arrasadoras, pois se eliminaram as cortinas florestais nativas e resistentes. Em seu lugar plantaram-se espécies de ciclo curto para fabricação de móveis e papel ou semeou-se capim para as enormes manadas de gado, iniciando futuros desertos. Os fenômenos naturais precisam de espaços de manobra para se completar. Bloqueamos de mil maneiras esses espaços e sofremos as conseqüências. Brasília não se salvou do desastre natural.

O Brasil, apesar de seu tamanho continental, a pelo menos uma década, chegou a seu limite de espaço para a população atual. É um fato inconteste que as pessoas não encontram mais espaço para viver dignamente. As capitais do país incham em todas as margens e os movimentos sociais estimulam invasões onde acreditam ser possível sobreviver. São espaços ilusórios. É apenas deslocamento de gente e de problemas.

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