Roberto Malvezzi (Gogó)
Existe uma íntima correlação entre a crise energética e o aquecimento global, afinal, o aquecimento é fruto particularmente da queima de combustíveis fósseis, que emitem CO2, o gás básico do efeito estufa. Diante da crise energética mundial, aprofundada pelo aquecimento global, a energia nuclear voltou ao topo do debate. Se durante muitos anos ela foi contestada pelo movimento ambientalista, agora produz contradições mesmo dentro dele, a exemplo do renomado cientista James Lovelock. Para ele, a energia nuclear é a panacéia para a crise de energia e a única resposta imediata ao aquecimento global.
Segundo Lovelock, diante da tragédia que pode ser o aquecimento global, todos os outros problemas atuais da humanidade são irrelevantes. Ele defende a teoria, testada em modelagem de computador que, se a concentração de CO2 atingir 500 ppm (parte por milhão) na atmosfera, as algas marinhas morrerão e o aquecimento deixará de ser gradativo para explodir de forma incontrolável. A única forma de evitar esse apocalipse seria a retomada imediata da energia nuclear. Só essa matriz energética teria a capacidade de suprir toda a demanda da humanidade atual, substituindo completamente o uso das energias advindas de matriz fóssil – carvão, petróleo, gás, etc. – e dessa forma evitar a emissão de CO2 na atmosfera. Nesse caso, vê o uso da energia atômica como um mal menor, até que as demais fontes consideradas limpas – solar, eólica, etc. – realmente possam suprir a energia necessária para bancar a civilização humana.
Lovelock merece respeito e sua tese merece consideração. Entretanto, ele não questiona o uso predador de energia pela civilização contemporânea e quer salvar o modelo civilizatório a qualquer preço. Mais, o que pode ser a saída para os paises frios, não precisa ser para um país tropical como o nosso.
Cientistas brasileiros afirmam que o Brasil tem sim potencial eólico, solar e de biomassa suficiente para evitar o investimento em energia nuclear. Ainda mais, o Brasil precisa adotar um plano de eficiência energética, já que nosso desperdício é da ordem de 15% do total, suficiente para abastecer todo o Nordeste durante um ano (www.ietec.com.br).
O retorno brasileiro à energia nuclear, com mais seis usinas até 2030, sendo duas no Vale do São Francisco, assusta o povo brasileiro, particularmente os ambientalistas. Sua contribuição será de apenas 5% na demanda elétrica do país. Embora a geração dessa energia não emita CO2, a humanidade ainda não está totalmente segura em relação aos seus resíduos. Ainda mais, nada garante que a multiplicação de energia nuclear terá sempre fins pacíficos, embora as regras internacionais sejam absolutamente severas. Portanto, minimizar os riscos dessa matriz energética também pode ter conseqüências graves.
O Brasil ainda tem tempo, outras fontes de energia seguras e limpas que podem ser exploradas num mixer gigantesco antes de pensar em intensificar seu programa nuclear.
Publicado originalmente na Família Cristã, N0 873, pg. 38.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
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