sábado, 26 de julho de 2008

UM ANO SEM LAÍS

EDITORIAL :UM ANO SEM LAÍS , Paulo Timm
Por: Paulo Timm - Diretor de ALEXANIA TV DIGITAL

Há um ano, vítima de uma enfermidade inominável que ainda teima em se alastrar em nosso meio, morria LAÍS ADERNE, um verdadeiro ícone de nossa região e , particularmente, de Alexânia e Olhos d´Água. Há um ano todos os meios culturais de Brasília e sua região goiana de maior influência choravam o passamento e cantavam as glórias desta mulher que soube, como poucas, recuperar a importância do cerrado, das mais belas tradições da terra de Anhangüera, de sua gente , à epopéia brasiliense.

Como mineira, natural de Diamantina, Laís resgatou uma dívida dos construtores da Nova Capital com Goiás. Foi o espírito goiano do mudancismo , um movimento que manteve acesa a chama da mudança da capital para o Planalto Central durante os anos 40 e 50, que motivou JK em sua histórica decisão de construir Brasília. E foi a fulminante decisão do Governador Juca Ludovico, nos idos de 54- o país ainda abalado pela morte de Vargas- que assegurou o controle estatal da terra goiana sobre a qual JK colocou a primeira pedra da cidade. E foi , ainda, a energia guerreira de um adventício, Bernardo Sayão, em nome de Goiás, que abriu os primeiros caminhos da Capital da Esperança.

Mas os goianos não resistiram ao impacto da grande obra e seus mestres construtores. Acanhados, contemplaram em silêncio o erguimento da cidade, bafejada com os estranhos ares da modernidade reinante na Corte. E fez-se a glória de JK, Niemeyer e Lucio Costa sem que de Goiás se soubesse um ponto. Faltava alguém que mostrasse à história que sobre essa vastidão, desde priscas eras, habitava um meio físico, um meio humano e um meio cultural riquíssimo. O espaço sobre o qual ergueu-se o colosso não era um deserto como os metropolitanos cosmolitas acreditavam. Era um oceano profundo de tradições. Laís Aderne foi essa pessoa . Ela saiu de Brasília, percorreu os caminhos de Goiás, as estradas reais que desde os incas articulavam essa imensa hinterlândia americana e mostrou a todos a riqueza destas tradições. Nos seus últimos anos de vida animava , com todo fervor, a idéia do Eco-Museu do Cerrado.

E , já no início dos anos 70 ajudava a comunidade de Olhos d Água, marcada pela ferida narcísica da perda de sua condição munícipe, a recompor-se em sua dignidade através da Feira do Troca. Laís fez muito mais do isso. Fez muito pela educação e pela cultura de Alexânia e Olhos d Água. Fez tanto que hoje se justifica dar-lhe o nome a iniciativas que assinalam essa auto-consciência da cidade. É tempo de perpetuarmos o nome de Laís Aderne , por exemplo, no Pólo Universitário, sem desdouro do nome de Cora Coralina, outro ícone do Estado, mas que se dobraria, com a mesma naturalidade com que fazia doces e versos, à imposição do nome de Laís em nosso meio.

É tempo do nome de Laís inscrever-se nas Escolas , nas Praças , nas Ruas da cidade para que os jovens saibam fazer da vida dela um exemplo para si mesmos. E para que nossa gratidão com esta mulher se afirme, enfim , em gesto. Para tanto ficam conclamados a Administração Municipal e a Câmara de Vereadores e todos aqueles que, sensibilizados, tomem esse Editorial como um verdadeiro MANIFESTO divulgando-o em seu meio. E , como uma pequena homenagem, o poema de seu filho saudoso:
Navio Presente
(Lais Aderne 1937-2007)
Hoje o mar levou
um navio cheio de presentes,
levou a menina
que navegava com os sonhos na ponta dos dentes
levou em varias caixas
pois em uma só não cabia.
O mar recebeu sorrindo
em ondas de alegria
foi navegar pela Inglaterra,
passando pelo porto de João Pessoa,
levando na bagagem um sabiá,
que ainda canta e voa
no meio do oceano.
Havia numa ilha chamada Brasília
De lá rumou sua quilha pra parar em Belém do Pará
Diamantina enviava sua filha
que mesmo em terra só sabia navegar
enquanto ela navega
quem fica em terra parcela a saudade pelos dias do resto da vida
içando velas e bandeiras brancas na hora de sua partida.
Seu filho, Pierre Aderne

sábado, 19 de julho de 2008

Pato Mergulhão: Operação Salvamento

Correio Braziliense, 17/07/2008
Pato-mergulhão
Operação de salvamentoCachoeira na Chapada dos Veadeiros é interditada para garantir a reprodução da ave, que está ameaçada de extinção e só existe no Brasil. Uma fêmea botou ovos no local e turistas devem ficar afastados
Érica Montenegro Da equipe do Correio
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Frederico Franca/Divulgação
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Criticamente ameaçado de extinção, o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) consegue até mudar roteiros turísticos. O Cânion 2 do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso (GO), está fechado por tempo indeterminado para garantir que a reprodução do animal não seja prejudicada pela presença dos visitantes. A decisão foi tomada ontem, depois que pesquisadores descobriram um ninho com dois ovos da ave em uma das paredes de rocha do Cânion 2. O chefe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Daniel Borges, afirma que o local deve permanecer fechado pelo menos até agosto, quando, provavelmente, os filhotes já terão nascido. “Por ser uma espécie raríssima, preferimos não colocar a reprodução dela em risco”, informa. De acordo com estimativas de organizações ambientais, a população de patos-mergulhões é de aproximadamente 250 indivíduos. A espécie — já extinta na Argentina e no Paraguai — sobrevive apenas no Brasil atualmente. O fechamento do Cânion 2 também atendeu a objetivos científicos. O ninho no paredão rochoso é o primeiro encontrado dentro dos limites do parque nacional e será monitorado por pesquisadores da Fundação Pró-Natureza (Funatura) que desenvolvem plano de conservação financiado pela Fundação O Boticário. “Como estamos em uma área de preservação, temos a obrigação de priorizar o pato em relação aos turistas”, completa Daniel Borges. Trilha O Cânion 2 faz parte do roteiro conhecido como “Trilha dos Cânions”, que inclui o Cânion 1 e a Cachoeira das Cariocas. Borges reforça que o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros continuará aberto, apenas a região do Cânion 2 ficará isolada. O período de reprodução do pato ameaçado de extinção coincidiu com a alta temporada de turismo na Chapada dos Veadeiros. Nesta época do ano, o número de visitantes do parque varia entre 100 e 150 pessoas por dia. O ninho do pato-mergulhão está em um local aonde se pode chegar a pé, o que deixa os ovos bastante vulneráveis. Além disso, até mesmo o barulho que os visitantes normalmente fazem pode atrapalhar o processo de incubação. “Ao perceber que o local é movimentado, os patos podem abandonar o ninho e os ovos”, explica a pesquisadora Vivian Braz, da Funatura. Neste caso, a preciosa ninhada se perderia porque ficaria sem proteção. O processo de reprodução dos mergulhões (entre a fêmea colocar os ovos e os filhotes nascerem) dura em média dois meses. Depois que põe os ovos, a fêmea se mantém sobre eles praticamente o dia inteiro para aquecê-los. Enquanto isso, o macho fica de sentinela tentando evitar os predadores. “Eles precisam se sentir absolutamente seguros. Se os ovos esfriam, os embriões não se desenvolvem”, afirma a bióloga Vivian Braz. -->

O númeroRAROS250 espécimesde pato-mergulhão sobrevivem atualmente, de acordo com entidades preservacionistas --> --> -->
Editor: Samanta Sallum // samanta.sallum@correioweb.com.brSubeditores: Ana Paixão, Roberto Fonseca, Valéria Velasco e-mail: cidades@correioweb.com.brTels. 3214-1180 • 3214-1181

terça-feira, 15 de julho de 2008

Reservas no buraco

Reservas no buraco
Aldem Bourscheit0
8.07.2008

Em um rompante de transparência de fazer inveja à ex-ministra Marina Silva, o ministro de Meio Ambinte Carlos Minc, revelou nesta terça-feira o tamanho do abacaxi que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMbio terá que descascar para colocar o mínimo de infra-estrutura e gente nas áreas protegidas do País. "Algo não vai bem no reino das unidades de conservação. O quadro é esse, não vamos esconder", disse Minc em coletiva de imprensa.
Dos 299 parques nacionais, reservas extrativistas, refúgios de vida silvestre e outras áreas protegidas federais, 173 (58%) não têm sequer um fiscal e 82 (28%) não possuem nenhum servidor. Além disso, só 73 (24%) das 299 já têm planos de manejo para garantir um uso mais adequado.
Tamanho descaso com áreas criadas pelo próprio governo deu asas à ilegalidade. Dos 11.224 Km2 de desflorestamento registrados no ano passado, cerca de 2,5 mil Km2 (22%) aconteceram dentro de áreas protegidas e terras indígenas. De forma geral, o desmatamento cresce mais dentro do que fora das unidades de conservação. Até porque do lado de foram pouca coisa sobrou em alguns estados amazônicos, como Rondônia e Mato Grosso.
Medidas
Frente ao descalabro das áreas protegidas federais, o Ministério do Meio Ambiente – MMA promete uma série de medidas. Quase tudo para este mês. Segundo Carlos Minc, a idéia é "proteger a biodiversidade e as populações tradicionais e elevar a oferta de madeira legalizada". O pacote inclui destacar um gestor para cada unidade de conservação, concurso público para preencher 185 vagas no ICMBio e 215 no Ibama, contratação de 180 novos fiscais entre agosto e novembro e de mil brigadistas para atuar até o fim do ano, principalmente no período de estiagem. Cada brigadista ganhará cerca de R$ 600,00 mensais. Amenizar a situação dos 63 parques nacionais é a prioridade.
O ICMBio tem hoje 1.635 servidores. Boa parte veio remanejada do Ibama. A terceira portaria de transferência de servidores será publicada nos próximos dias. Com isso, serão quase dois mil trabalhadores carregados para o órgão criado na gestão Marina Silva. "O cobertor não ficará curto para o Ibama", garantiu Minc.
Sustentação financeira
A grande dúvida frente a tantos anúncios é de onde saíra o dinheiro para fechar algumas feridas da gestão ambiental federal. Vale lembrar que a maioria das reservas não é demarcada e não possui infra-estrutura para manter em seus limites gestores e fiscais. O MMA aposta nos recursos da compensação ambiental. Segundo Minc, mais de R$ 400 milhões poderiam engrossar a gestão das áreas protegidas se essa torneira for mesmo aberta.
Dados obtidos pelo O Eco revelam que apenas R$ 3 milhões estavam previstos de início para as reservas federais de proteção integral na Amazônia em 2008.
Já Silvana Medeiros, presidente-interina do ICMBio, comentou que o governo está investindo na "modernização administrativa" para evitar falta de combustível e outros materiais nas áreas protegidas. Segundo ela, foi contratada uma gestora para abastecer veículos que operam dentro das reservas e foi fornecido um "cartão" corporativo para cada unidade, gerenciado pela sede em Brasília. Também se pensa na cobrança eletrônica de ingressos, reduzindo fraudes. "Não faltará mais combustível em áreas protegidas", disse.
Turismo
A visitação de parques nacionais e outras áreas também pode alimentar os cofres das unidades de conservação. Mas dados do governo mostram que as áreas protegidas federais recebem apenas 3,5 milhões de visitantes por ano. Complicando tudo, nove entre dez turistas preferem os bem estruturados parques nacionais do Iguaçu (PR) e da Tijuca (RJ). "A melhor defesa é o bom uso. Por isso queremos melhorar a visitação, ampliando a receita e a fiscalização desses locais", avisou Minc.
MMA e Ministério do Turismo já tiraram do forno um plano para esquentar o turismo em 25 unidades de conservação. O ministro também discutirá com a Eletrobrás e com a Itaipu Binacional um modelo para reverter parte das taxas de energia de novos empreendimentos para a manutenção de áreas protegidas. "O custo deve ser dividido entre consumidores e geradores, mas o modelo precisa ser mais bem discutido", avisou o ministro.
Sem planos
Toda reserva ecológica deveria funcionar com um plano de manejo. O documento é uma espécie de manual de uso para se evitar a degradação excessiva de cada área. Mas a realidade das reservas federais é bem diferente, ainda mais se tratando das 55 reservas extrativistas. Apenas duas têm plano de manejo. Isso compromete sua preservação e a vida das populações que lá vivem. Sem planos, nem financiamentos públicos são liberados.
Conforme o ministro Minc, a falta de regularização joga extrativistas na miséria, fazendo com que abram as portas das reservas à ilicitudes de toda a natureza. "Muitos extrativistas na miséria vendem madeira ilegal ou deixam gado entrar nessas áreas. A miséria os converte em predadores. Vamos apreender boi pirata dentro das reservas", disse.
A produção dos 53 planos de manejo que faltam para as reservas extrativistas será acelerada com a ajuda de ONGs e instituições de ensino. Entidades como essas concorrerão ao trabalho por meio de um edital que será lançado a partir de agosto. Há poucos dias, o governo também lançou uma política de preços mínimos para produtos do extrativismo.
Outros 12 planos de manejo são elaborados para florestas nacionais, alvo principal das concessões de matas para manejo. Se os planos governistas se concretizarem, até 4 milhões de hectares serão alvo de manejo até o fim de 2009. A capacidade de produção anual seria de 6 milhões de metros cúbicos de madeira. Cada concessão tem prazo inicial de 30 anos.* Segue em anexo apresentação do Minc.Fonte: http://arruda.rits.org.br/oeco/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=67&textCode=28396&date=currentDate&contentType=html